domingo, 20 de julho de 2008

Cidade-mercadoria

Segue abaixo, artigo que enviei a A Gazeta e não foi (ou não quiseram) publicá-lo. Para discussão!

Cidade-mercadoria

Infeliz será a cidade que padeça de espaços públicos e democráticos e que se contente com espaços cerceados por muros, grades e câmeras de segurança dos condomínios fechados como o único meio de se viver em sociedade. Infeliz desta, a qual tenha sua urbanidade medida pela simples mais valia de seus espaços urbanos. Triste será constatar que o futuro desta cidade seja o de perder sua identidade para os imensos aglomerados urbanos amorfos, cascas de morar sem significado onde as pessoas de juntam não para a convivência, mas para se protegerem uma das outras.

É de entristecer a imagem da cidade apresentada pelos que a vêm construindo nestas últimas décadas e que foi estampada nas páginas de A Gazeta neste último dia 29 de junho. A “Manhattanização” da cidade de Vitória é uma imagem triste e ao mesmo tempo, aterradora de uma cidade sem alma, fria e individualista. Uma cidade egoísta, excludente e voltada para dentro de enclaves urbanos e sociais, que relegam os “outros” a sorte da violência e da barbárie das áreas “não-cercadas-protegidas”. Fazer parte da cidade não será mais fazer parte de um coletivo, mas de vários coletivos dentro de seus feudos-ilhas de pretensa segurança. Aos outros, resta então as sobras do que antes era conhecido como espaço público, áreas abertas agora extra-muros, periféricas mesmo dentro da cidade.

Louvável é o crescimento ordenado e planejado da cidade, atendendo os interesses públicos (sociedade e Estado) e privados (o mercado). Infelizmente, ainda há um descompasso entre os investimentos do capital privado sobre o público, com a cidade assumindo um viés quase que unitário, de um bem de consumo, mercadoria de troca e finito por constituição. Esgota-se um lugar ou cidade, desvaloriza-o por conta da perda de seu significado e partem para outros lugares, com novas infra-estruturas, novos ares e novo marketing, mesmo a quilômetros e quilômetros de distância dos centros urbanos, partindo para uma lógica não da expansão natural da cidade, mas para uma expansão agressiva medida pelo poder financeiro.

Espera-se que a menina Maria Vitória, da matéria citada acima, daqui a vinte anos possa ainda viver em uma cidade onde o andar por suas ruas, o conviver com outras pessoas seja um direito seu inalienável. Que ela possa morar em uma cidade da qual possa chamar de sua, com seus lugares e seus significados. Onde os espaços públicos ainda possam ser usufruídos na plenitude de seu significado de lugar democrático e do convívio comum.

Fabiano Dias é Arquiteto-Urbanista

fabiano@urbearquitetonica.com.br

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