
Athos Bulcão - último ato
http://www.fundathos.org.br/
"Nunca se sabe o que a maré vai trazer".
Cidade-mercadoria
Infeliz será a cidade que padeça de espaços públicos e democráticos e que se contente com espaços cerceados por muros, grades e câmeras de segurança dos condomínios fechados como o único meio de se viver
É de entristecer a imagem da cidade apresentada pelos que a vêm construindo nestas últimas décadas e que foi estampada nas páginas de A Gazeta neste último dia 29 de junho. A “Manhattanização” da cidade de Vitória é uma imagem triste e ao mesmo tempo, aterradora de uma cidade sem alma, fria e individualista. Uma cidade egoísta, excludente e voltada para dentro de enclaves urbanos e sociais, que relegam os “outros” a sorte da violência e da barbárie das áreas “não-cercadas-protegidas”. Fazer parte da cidade não será mais fazer parte de um coletivo, mas de vários coletivos dentro de seus feudos-ilhas de pretensa segurança. Aos outros, resta então as sobras do que antes era conhecido como espaço público, áreas abertas agora extra-muros, periféricas mesmo dentro da cidade.
Louvável é o crescimento ordenado e planejado da cidade, atendendo os interesses públicos (sociedade e Estado) e privados (o mercado). Infelizmente, ainda há um descompasso entre os investimentos do capital privado sobre o público, com a cidade assumindo um viés quase que unitário, de um bem de consumo, mercadoria de troca e finito por constituição. Esgota-se um lugar ou cidade, desvaloriza-o por conta da perda de seu significado e partem para outros lugares, com novas infra-estruturas, novos ares e novo marketing, mesmo a quilômetros e quilômetros de distância dos centros urbanos, partindo para uma lógica não da expansão natural da cidade, mas para uma expansão agressiva medida pelo poder financeiro.
Espera-se que a menina Maria Vitória, da matéria citada acima, daqui a vinte anos possa ainda viver em uma cidade onde o andar por suas ruas, o conviver com outras pessoas seja um direito seu inalienável. Que ela possa morar em uma cidade da qual possa chamar de sua, com seus lugares e seus significados. Onde os espaços públicos ainda possam ser usufruídos na plenitude de seu significado de lugar democrático e do convívio comum.
Fabiano Dias é Arquiteto-Urbanista
fabiano@urbearquitetonica.com.br
No meio do caminho havia uma pedra, ou melhor, uma cimalha. Mas como dizia Mies van der Rohe, "Deus está nos detalhes".
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Ainda bem que o caixilho de vidro abre à francesa. Crédito: Internet |
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Artigos e livros. Sugestões da Clara Miranda.
1. Museu Brasileiro da Escultura, utopia de um território contínuo (1). David Sperling
Texto com conceitos de esfera pública Hannah Arendt e Habermas
http://www.vitruvius.com.br
2. Richard, Sennett. Carne e Pedra. O corpo e a cidade na civilização ocidental
Editora Record.
3. Richard, Sennett. O Declínio do homem público. As tiranias da intimidade
Companhia das Letras, 1988.
4. Jacobs, Jane. Morte e vida nas grandes cidades
Martins Fontes. (original, 1961)
5. Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida
Editora Zahar
6. Deleuze, Gilles. Dobra: Leibniz e o Barroco